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BRUNO GAGLIASSO RECRIA VAN GOGH NO TEATRO FOLHA Co-realizador do espetáculo, ator encarna dois personagens em cena e também canta em “UM CERTO VAN GOGH”, que terá em São Paulo sua primeira temporada fixaDepois de passar, com sucesso, por algumas cidades brasileiras, chega ao Teatro Folha, para sua primeira temporada fixa, “Um Certo Van Gogh”. O espetáculo, que mescla as angústias do pintor do século 19 às dos jovens de hoje, estréia em 4 de julho e fica em carta até 31 de agosto, de sexta a domingo, no Teatro Folha.Apesar da referência ao mestre holandês da pintura, o protagonista de “Um Certo Van Gogh” é Timóteo, estudante que, no século 21, em meio a dúvidas e incertezas que a juventude produz, se identifica com a vida e a obra do artista. Ambos – Timóteo e Van Gogh – são interpretados por Bruno Gagliasso, também co-realizador do espetáculo. Além disso, pela primeira vez, Gagliasso canta ("Chatterton", de Serge Gainsbourg, que ficou conhecida no Brasil pela versão de Seu Jorge e Ana Carolina). Completam o elenco Pedro Garcia Netto, Marcelo Valle e Larissa Bracher. Todos os atores interpretam mais de um personagem, em um interessante jogo de duplos entre os intérpretes e as duas épocas que foge do lugar-comum das biografias tradicionais. O texto, inédito, é assinado por Daniela Pereira de Carvalho – indicada ao Premio Shell por seu mais recente trabalho, “Por uma Vida um Pouco Menos Ordinária”, que manteve sua primeira temporada paulistana no Folha –, e a direção é de João Fonseca, o mesmo de “Gota d'Água”, de Chico Buarque e Paulo Pontes.A trilha sonora é de Alexandre Elias, e o visagista Uirande Holanda, o responsável pelo visual de Bruno Gagliasso. Completam a ficha técnica o cenógrafo Nello Marrese, a iluminadora Dani Sanchez e os figurinistas Ernani Peixoto e Michele Dias.SOBRE O ESPETÁCULO“Um Certo Van Gogh” foge das biografias tradicionais ao retratar a vida do pintor holandês de maneira original. O artista ganha uma recriação contemporânea, em que, na verdade, o protagonista da peça é Timóteo, jovem que vive dois séculos adiante. Porém, assim como Van Gogh, Timóteo enfrenta angústias típicas da juventude – o que fazer depois de se formar, por exemplo –, não sem pitadas de humor. Assim, há espaço para baladas e outros passatempos.É assim que “Um Certo Van Gogh” se assume um espetáculo leve e bem-humorado, com linguagem contemporânea e que procura fugir dos clichês que permeiam a vida do mestre da pintura. Em cena, episódios célebres – a exemplo das perturbações mentais que o artista sofreu – são redimensionados, em nome de um novo olhar sobre o homem Vincent Van Gogh, tantas vezes ocultado pela potência e magnitude de sua obra.O fato de Van Gogh ter tido seu talento reconhecido apenas depois de sua morte foi determinante para que as idéias cruzadas em “Um certo Van Gogh” se alinhavassem. Na linha de frente da montagem, o ator Bruno Gagliasso agregou ao trabalho suas inquietações sobre a trajetória artística do pintor. Daí, a dramaturgia rubricada por Daniela Pereira de Carvalho fugir do viés biográfico e procurar estabelecer conexões de Van Gogh com a atualidade.A leitura do gênio holandês é feita a partir da contemporaneidade. João Fonseca e companhia orientam o espetáculo como que a procurar realçar o impacto de Van Gogh no pensamento da arte em tempo presente. A realização da peça já comprova tal influência. Sinônimo de idealismo e inventividade, Van Gogh é uma referência a ser explorada. Sempre.Cabe um parêntese para falar dos “duplos”, já que Bruno Gagliasso, Pedro Garcia, Marcelo Valle e Larissa Bracher dão vida a dois personagens cada um. Garcia faz um homem vital para se entender Van Gogh, seu irmão Theo. Nos dias atuais, ele é Tito; Valle vive o polêmico e ousado Gauguin, com quem o pintor holandês estabeleceu uma relação de amor e ódio, e seu personagem contemporâneo é Paulo; Larissa Bracher é exceção e interpreta três personagens: Juliana, Nicole e Yohanna.“O que a gente quer é apresentar um olhar sobre os sentimentos do Van Gogh, não sobre sua vida. Eu sentia uma necessidade de falar mais sobre o Van Gogh artista do que sobre sua vida”, diz Bruno Gagliasso. “Essa coisa de ter sido internado, todo mundo sabe. A dimensão artística do Van Gogh me impressiona muito. Ao mesmo tempo em que ele é tido como um paradigma na história da arte, é um cara que só vendeu um único quadro durante a vida”, avalia. É por isso que “Um Certo Van Gogh”, nas palavras do ator, “é um projeto de vida, não só um trabalho”.SOBRE A AUTORAGanhadora do Prêmio Eletrobrás de melhor autora de 2007, por “Não Existem Níveis Seguros para o Consumo Destas Substâncias”, Daniela Pereira de Carvalho é, hoje, a principal autora da nova geração teatral do Rio de Janeiro. Aos 31 anos, já tem em seu currículo 11 textos encenados.Integrou a companhia teatral carioca Os Desequilibrados, sendo autora das sete últimas peças do grupo – “Vida, o Filme” (2002/2003), “The Love Games” (2003), “Combinado” (2002), “Assassinato em Série – Cena do Crime” (2003), “Outro Combinado” (2003), “Assassinato em Série – Dilacerado” (2004) e “Lady Lázaro” (2005).Formada pela Faculdade de Teoria do Teatro da Universidade do Rio de Janeiro (UNI-RIO) em 2002, desenvolveu monografia sobre a obra de Samuel Beckett e Marcel Proust, sob a orientação de Flora Sussekind. Trabalhou três anos como pesquisadora do CNPq com a historiadora e crítica de teatro Tânia Brandão, em uma pesquisa sobre história do teatro brasileiro. Atualmente, faz parte da equipe do projeto integrado de pesquisa da professora e dramaturga Beti Rabetti, também como bolsista CNPq.Em 2003, participou do Estúdio de Criação Dramatúrgica, fazendo oficinas com Bosco Brasil, João Bethencourt, Lauro César Muniz e Royal Court Theatre (Inglaterra). E foi indicada ao Premio Shell por seu mais recente trabalho, “Por uma Vida um Pouco Menos Ordinária”, que estreou sua temporada paulistana no Teatro Folha, no final de 2007.SOBRE O DIRETORJoão Fonseca nasceu em Santos (SP), onde iniciou sua carreira como ator, trabalhando com Neyde Veneziano, Nélio Mendes e Thana Correa, entre outros. Formado pelo Centro de Pesquisas Teatrais (CPT) de Antunes Filho, trabalhou com os diretores Jorge Takla, Gabriel Villela, Marcus Alvisi, Paulo de Moraes e Antonio Abujamra, além de atores como Rubens Correa, Paulo Autran, Luiz Fernando Guimarães e Otavio Muller.A partir de 1995 passou a integrar a Companhia Os Fodidos Privilegiados, onde co-dirigiu diversos espetáculos com Antonio Abujamra, entre os quais, “O Casamento”, de Nelson Rodrigues, e “Tudo no Timing”, de David Ives. Atualmente é diretor artístico da companhia.SOBRE A TRILHA SONORAO projeto se destaca ainda pela trilha sonora de Alexandre Elias. Músico e compositor, ele foi indicado ao Premio Shell por “A Hora e a Vez de Augusto Matraga”, em 2006, e por “As Aventuras de Zé Jack e Seu Pandeiro”, em 2005.A trilha é composta por músicas clássicas, como o “Bolero de Ravel”, e contemporâneas, como “Chatterton”, de Serge Gainsbourg, que ficou conhecida pela versão de Seu Jorge e Ana Carolina (e no espetaculo é cantada por Bruno Gagliasso).Um dos grandes reflexos da arte de Van Gogh e Gauguin foi a música impressionista, que teve como principais representantes os compositores Claude Debussy e Maurice Ravel. Cada um deles compôs apenas um quarteto de cordas, que acabaram por se tornar duas obras-primas da música ocidental. Dois quartetos raros, de difícil execução e interpretação, e talvez por isso tão pouco tocados nas salas de concertos e tão pouco gravados. Neles estão, em forma de música, as imagens e primeiras impressões que observamos nas telas de Van Gogh e Gauguin.“São esses os quartetos que usei para a trilha de ‘Um Certo Van Gogh’. Além das imagens, existem nesses quartetos as mudanças de humor, os surtos, a instabilidade emocional e o difícil temperamento que desenhava a personalidade de Van Gogh e seu relacionamento com o amigo Paul”, descreve Elias.Para a parte contemporânea do espetáculo, ele optou por uma música mais “seca”, dura, que tem como base a canção “Chatterton”. “Sempre acreditei que os grandes atores são aqueles que, entre outras habilidades, sabem utilizar muito bem a musicalidade inerente ao ser humano. Acredito que o grande ator se vale dessa musicalidade para construir seu personagem, seus gestos, maneirismos, qualidade e timbre vocal. E ele se vale dessa musicalidade para seus personagens tanto quanto o grande músico para suas composições ou interpretações”, comenta o compositor. “Considero minha maior inspiração para a trilha desse espetáculo a musicalidade que vi surgir de quatro atores soberanos em suas partituras, cantando para mim, em forma de ação, todo o caminho que a música deveria seguir.”
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