Vida de ator de sucesso na televisão, com a novela caminhando para o seu último mês de exibição, não é fácil. A de jornalista também não é mole. Principalmente numa hora de fechamento, às 20h, quando um assessor de imprensa liga pedindo seu número de telefone sob o argumento de que o único momento que Bruno Gagliasso pode dar entrevista sobre o espetáculo Aonde está você agora? (que estreia sábado, noTCA) é dentro de 60 minutos, ao terminar mais um dia de gravação de Caminho das Índias. Isto é, se der para ele ligar.

Uma hora depois, felizmente, tudo flui bem. Carioca de Laranjeiras, o flamenguista Bruno Gagliasso celebra mais um sucesso na TV: encarou um personagem difícil, Tarso Cadore, que sofre de esquizofrenia, e encontrou o tom certo. Deu verossimilhança a um jovem que, além de ser tratado como um mero burguesinho pela sua família, vive perseguido por uma voz sinistra.

Um prato cheio para qualquer ator de sua idade, se for presunçoso, cair no ridículo. “É mais um papel complicado na minha carreira, pois é. Estou ficando acostumado. Eu gosto de enfrentar desafios, de correr riscos. Aos 27 anos, é o que me motiva como ator”, afirma.

De fato, o jovem galã de olhos azuis (que fascinam as garotas) está saindo-se melhor do que a encomenda. Começou na TV aos 8 anos, em Barriga de aluguel (1990), fez Chiquititas (1999), Malhação (2000)... e hoje já traz no currículo personagens fortes como o catatônico Inácio (Celebridade/ 2003), o homossexual Júnior (América/2005) e o playboyzinho deliquente Ivan Correia Novaes Cavalcanti (Paraíso tropical/2007), irmão do cafajeste maior Olavo (Wagner Moura) na ótima trama escrita por Gilberto Braga.

Irmão de Paula Marques e de Thiago Gagliasso (também é ator), Bruno interpretou o gênio holandês Vincent Van Gogh (1853-1890) na peça Um certo Van Gogh, em 2008.

No espetáculo Aonde está você agora?, que ele divide com Thiago Martins (Belíssima), Bruno resolveu também estrear na direção. “Essa peça, já havia sido encenada em 1995, com André Gonçalves e Cassiano Carneiro, e eu gosto muito. É maravilhosa. Fala sobre amizade e eu acho o tema mais do que oportuno nos dias de hoje. Por isso, eu escolhi dirigi-la”, explica.

Com título extraído de um verso da canção Vento no litoral (1991), da banda Legião Urbana, o espetáculo conta a história de dois amigos que se separam ainda jovens. Um permanece no Brasil e outro vai residir no exterior. Como a ação se passa nas décadas de 80 e 90, quando ainda não existia internet e as ligações internacionais eram muito caras, eles se comunicam por meio de cartas.

Salvador

Curiosamente, Bruno Gagliasso só atuará em Aonde está você agora? na capital baiana e em Niterói (RJ). Depois, será substituído por Gustavo Leão, que viveu o bonzinho Mateus em Paraíso tropical. “Já estava programado que eu só faria essas duas cidades. Em Salvador, então, era fundamental. Adoro a cidade, tenho grandes amigos, já passei Reveillon e carnavais aí, vou nos fins de semana... Enfim, sempre que possível vou à Bahia”, conta.

Com o fim de Caminho das Índias, previsto para o dia 11 de setembro, Bruno Gagliassovai tirar férias e planeja fazer cinema, linguagem onde só atuou até agora no curta-metragem As vozes da verdade, dirigido em 2002 pelo ator Pedro Neschling (filho do maestro John Neschling e da atriz Lucélia Santos). Só para variar, Bruno interpretou um problemático: Lucas, um cara que vê seus pais serem assassinados, mas não se lembra de nada.

“Já recebi alguns convites para fazer cinema, mas não tinha nem tempo para avaliar. Eu quero fazer, sim. Eu gosto mesmo é de atuar. Não importa que seja na televisão, no teatro ou no cinema. Meu compromisso é com a arte”, diz.

Mas, antes de tiras férias e ficar flanando até o próximo trabalho, Bruno tem ainda que se concentrar nos momentos que darão contornos finais (felizes) ao atormentado herdeiro da fortuna Cadore.

Com Tarso, a autora Glória Perez e Bruno Gagliasso têm a oportunidade de chamar a atenção para o problema do esquizofrênico, que sofre de muito preconceito na sociedade. Até mesmo por ignorância da própria família, que pode achar que o doente é um maluco sem cura.