O ator Bruno Gagliasso tem se caracterizado por personagens muito “intensos”. Depois de interpretar Van Gogh no teatro, ele foi para a televisão com o esquizofrênico Tasso, da novela Caminhos da Índia. Para o ator, a experiência como esquizofrênico trouxe também a satisfação de estar cumprindo o próprio papel social, de mostrar para as pessoas como vive e o potencial dessas pessoas.

Bruno Gagliasso esteve em Natal esta semana para encenar a peça “Aonde está você agora?”

“E isso me motiva a fazer personagens assim, é ter essa posição social. Isso me estimula, me dá gás. Adoro. Aliás, o ator surgiu disso, há muito tempo, para fazer política, política social, política da vida”, comenta Bruno Gagliasso, que esteve em Natal para encenar a peça “Aonde está você agora?” e ainda lançar o camarote Natal 2014, do qual é sócio.

Bruno Gagliasso é daqueles artistas que não surgem com a falsa modéstia de dizer que não gostam de ser chamados de galãs. Embora não se considere como tal, ele gosta de ser considerado: “Eu adoro quando falam essa história de galã. Eu adoro que falem que eu sou galã. Quem não gosta de se sentir bonito, principalmente quando seu trabalho também é valorizado”. Para Gagliasso não há “receita” de sucesso para uma novela e ele explica: “Não dá para explicar. “As Filhas da Mãe” era o Sílvio de Abreu que escrevia, Fernanda Montenegro atuava, Jorge Fernando dirigia e não deu certo. Não tem explicação. Acho que cada caso é um caso”.

Bruno Gagliasso fala com simplicidade, mostra-se simpático com os fãs e responde de pronto a todas as perguntas. E é ele o convidado de hoje do 3 por 4.

Você interpretou um esquizofrênico na novela (Caminhos da Índia), mas vem também de uma peça Um Certo Van Gogh onde você também trazia muita intensidade no personagem.
Essa peça (Um Certo Van Gogh) me ajudou muito com meu personagem na televisão. Quando a Glória me convidou ela até falou “Bruninho tem uns livros que eu gostaria muito que você lesse” e citou alguns autores. Eu já tinha lido todos (para fazer o personagem de Van Gogh no teatro), mas eu reli tudo. Eu fiz reler e é bom porque quando você reler você descobre coisas com outros olhos.

O que lhe chamou atenção no perfil do esquizofrênico?
Estudei muito.

Qual a imagem que você tem hoje dessas pessoas?
Como eles sofrem com o preconceito. Como machuca o preconceito. Eles não são nem e não estão no mesmo grau do lado de quem é deficiente físico. Eles reivindicam que a sociedade veja não como pessoas normais, mas sim como deficientes físicos. Imagine a dor. Você tem noção disso? Sabe o que eles sentem? O que mais me chamou atenção foi essa falta de cuidado que a sociedade tinha e ainda tem com o esquizofrênico e ao mesmo tempo um dom criativo tão grande. Como eles são criativos, frescos. Se eles tomam o remédio certo, se tem o acompanhamento médico certo e são respeitados pela sociedade, eles podem ter uma vida como qualquer outra. É impressionante.

A sua interpretação de esquizofrênico, leva isso para televisão, seria estar cumprindo um pouco do papel social do ator?
Sem dúvida. E isso me motiva a fazer personagens assim, é ter essa posição social. Isso me estimula, me dá gás. Adoro. Aliás, o ator surgiu disso, há muito tempo atrás, para fazer política, política social, política da vida.

Você sente falta de papéis sociais em outros trabalhos, em outros colegas, novelas?
Não. Eu não gosto de julgar. Eu respeito. Eu gosto de fazer isso. Eu me sinto bem.

Qual foi seu personagem mais intenso?
Sem dúvida o Tarso.

Com o laboratório antes da novela, com toda vivência do personagem, mas você não chegou a se sentir um pouco esquizofrênico?
Lógico. Não tem como, até porque estou emprestando, eu sou um pouco aquilo. É tudo que vivi, tudo que estudei, é impossível não estar. Não existe essa história de não levar o personagem para casa. Eu levo, literalmente. Até porque quando você chega em casa, você tem que estudar, tem que fazer um monte de coisa.

E “Aonde está você agora” (é o nome da peça que ele está encenando, inclusive passou por Natal)? O que o ator empresta para o diretor, já que nessa peça você dirigiu e encena.
Muita coisa. Como influencia, como o olhar do ator é fundamental para eu trabalhar o meu de diretor. Sei até onde um ator pode chegar, sei o que é possível fazer. Aprendi como ator, mas estudei para dirigir. É fundamental. Tudo isso surgiu como uma brincadeira. Combinei “vamos montar uma peça”, só uma semana. Aí eu disse quero dirigir. E fomos lá. Acabou que deu muito certo, as pessoas falaram muito bem, crítica boa. Aí a gente disse “vamos continuar”.

E o que o Bruno Gagliasso diretor empresta para o ator?
Aliás, eu vou perguntar para o Thiago (Thiago Martins, que encena a peça junto com Bruno Gagliasso). Você passa a se observar mais. Se estiver só atuando eu acabo me excedendo. E dirigindo eu sei que só posso ir até ali. Eu passo a me doar mais ao outro. Vejo como a troca é importante com os atores em cena.

O sucesso da novela depende de que?
Acho que não tem receita. Cada trabalho é um trabalho, cada novela é uma novela. Não dá para explicar. “As Filhas da Mãe” era o Sílvio de Abreu que escrevia, Fernanda Montenegro atuava, Jorge Fernando dirigia e não deu certo. Não tem explicação. Acho que cada caso é um caso.

Por uma peça de teatro envolver menos pessoas, você encontra explicação para ela se tornar uma encenação com grande repercussão?
Hoje em dia muda muito o conceito do que é sucesso. Depende de qual a visão do sucesso. A minha visão do sucesso é você estar inteiro no projeto, é você se dedicar 100% ao projeto, é você ter feito a luz que você quis, é você emocionar a platéia, fazer rir, fazer chorar, independente da bilheteria ou não. O sucesso para mim é o sucesso artístico, é a satisfação pessoal de estar realizando um trabalho bonito. O que para um produtor talvez não seja. Para ele ( o produtor) pode ser que o sucesso seja a bilheteria.

Falar em platéia, você encontra platéia difícil?
Já encontrei muito. Principalmente na época de Van Gogh porque é um tema muito profundo. Fico muito feliz em poder ter tido a repercussão que teve com o Tarso e levar a quantidade de gente que eu levei para o teatro e chegado ao teatro, as pessoas estão ali para ver o Tarso e se deparam com uma peça linda (“Aonde está você agora?”), com um enredo bacana. As vezes as pessoas vão ao teatro e nem sabem o que é. Elas se deparam, toca e elas esquecem o Tarso (personagem esquizofrênico de Caminhos da Índia). Toca o Tarso e passam a ver a história de dois amigos que se amam. É tão emocionante para gente ator ver isso e isso para mim é sucesso.

Para um ator que chama atenção pela beleza física é mais fácil ou mais difícil fazer um personagem mais forte como esquizofrênico, um caipira. Até onde o perfil físico pode contribuir ou atrapalhar para compor um personagem?
Me ajuda muito. Eu adoro quando falam essa história de galã. Eu adoro que falem que eu sou galã. Quem não gosta de se sentir bonito, principalmente quando seu trabalho também é valorizado. Acho que o conceito de galã também mudou muito. Antigamente o galã era quem fazia o personagem galã. Hoje em dia o galã é essa pessoa bonita, charmosa é galã. Eu adoro.

Você está diversificando seus negócios com o camarote no Carnatal, também já atua como dj.
Vamos ver o que vai dar. Quando me convidaram eu disse “vamos lá”, estou dentro. Eu gosto de estar com o ser humano, eu gosto da troca. Isso para o ator é fundamental porque você aprende, está ali olho no olho. Isso só me enriquece. Isso só aumenta o meu campo de visão.

Fonte: Tribuna do Norte

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